quarta-feira, 7 de abril de 2010

Guerreiro Ramos - Administração Estratégia do Desenvolvimento: elementos de uma sociologia especial da administração



Profª Débora Alfaia da Cunha

Aluna: Gilmara Elke Dutra Dias
Mestrado em Administração - Área : Estratégia Empresarial
Universidade de Fortaleza - Ce

Resumos - obras de administração

Resumos de obras de administração, cultura adminsitrativa e cultura política brasileira (Escritos na Disciplina de Gestão da Educação na Pós da Unb). um pouco de tudo isso. aqui vocês encontram nomes como Touraine, Guerreiro Ramos e Jessé Souza. o objetivo é tanto convidar a leitura das obras quanto monstrar a necessidade de leituras que extrapolem o campo da Educação. O olhar transdisicplinar não se isola, amplia-se.

RESENHA DOS CINCO PRIMEIROS CAPÍTULOS:



CAP 1 - TOURAINE, Alain. Igualdade e diversidade: o sujeito democrático. Bauru, SP: EDUSC, 1998.



O resumo ora apresentado sintetiza os argumentos presentes, do primeiro ao quinto capítulo, na obra “Igualdade e diversidade: o sujeito democrático” escrita por Alain Touraine, um dos mais influentes sociólogos contemporâneos. O texto aqui resumido enquadra-se num esforço teórico de compreender a sociedade contemporânea utilizando referencias mais amplo do que os apresentados pelos clássicos do século XIX. Essa empreitada, realizada também em outras obras do autor, o coloca de forma singular na linha teórica denominada de pós-moderna. Para demarcar sua percepção sobre os novos caminhos sociais Touraine prefere a expressão “sociedade pós-industrial”, indicando que é preciso pensar a sociedade para além do fator econômico, desvelando o campo político como foco da sociologia contemporânea.

É nessa linha de análise política que Touraine se movimenta em “igualdade e diversidade”. Nesta obra, o autor define ser a tarefa da democracia contemporânea assegurar ao indivíduo a fruição de sua dupla dimensão social (de igual, perante a lei, e de diverso, ante o social). Essa valorização do ator social só é possível pela superação dos modelos clássicos de democracia, divididos nas vertentes revolucionárias e liberais, que, apesar das divergencias, expressam o ideal da “política das luzes” (p29) para o qual o progresso social só é possível pela eliminação dos atores conscientes e organizados.

Assim, as duas concepções democráticas citadas se ligam à noção de sociedade construída na modernidade e que segundo Touraine se defini pela separação “entre a racionalização, como a modalidade de ação sobre a natureza, e o individualismo moral” (p7) tendo por principio de união a dimensão política. Essa visão de sociedade se ancora em 4 premissas básicas: a) A sociedade é uma criação da vontade política; B) O interesse do “corpo social” é o princípio de avaliação moral dos comportamentos; C) Os indivíduos são semelhantes perante a lei e a natureza, mas desiguais nas condições econômicas; d) O progresso moral e material resulta da evolução histórica natural da sociedade.

Segundo o autor, a esperança no “progresso natural” aliou facilmente os ideais democráticos aos revolucionários. Mas se a revolução, ancorada na idéia de transformação, conseguiu a adesão das massas, a democracia instaurada no período pós-revolucionário não foi em nenhum sentido popular, sendo realizada pelos intelectuais revolucionários. Assim, na tarefa modernizadora pós-revolucionária, o novo grupo político ergue-se como uma sociedade política todo-poderosa, separada dos atores sociais e passando a agir por eliminação da oposição.

Outro modelo gerado pelos ideais modernos foi a democracia liberal, que subordina a ordem política aos comportamentos econômicos. Sociologicamente a democracia liberal se expressa pela noção de ação estratégica, baseada numa lógica mais defensiva que ofensiva, pois busca o controle das zonas de incerteza pela escolha do menos ameaçador. Por isso prefere a liberdade negativa pelo temor da mobilização autoritária. A definição de democracia é a liberdade dos atores sociais. Esse cenário leva, no plano das organizações e empresas a uma negociação com os outros atores sociais, fazendo as organizações mais flexíveis e sensíveis à demanda, numa gestão que opera num cenário complexo e incerto.

Para Touraine, os dois modelos democráticos modernos apesar de diferentes ancoram-se em duas posturas idênticas: a) Apresentam a esperança histórica no progresso natural; b) Desconfiam da consciência, das construções jurídicas, das instituições e dos atores sociais. Assim, em ambos, existe a eliminação da idéia de ator social, sendo este considerado como um ente irracional que apenas busca se proteger e conservar os moldes sociais que impedem o progresso natural. Essa concepção leva, na perspectiva dita revolucionária, a um poder absoluto, e na liberal a um modo de gestão social que facilita a acumulação da riqueza aumentado as distancias sociais.

Touraine demonstra que o esgotamento desses modelos não aumentou a crença no ator social, antes vem levando, numa via negativa, a reduzir a democracia ao pluralismo das candidaturas submetidas a livre escolha social, ou seja, o povo escolhe, mas não propõe e nem implementa. Para o autor um regime assim é mais oligárquico que democrático e incentiva a consolidação do poder das elites econômicas e a formação de um contra-sistema político autoritário, que tenta superar a exclusão pela utilização da força e da violência. Por fim, Touraine convida a pensar um novo modelo de democracia e de espaço público onde, diferente das concepções clássicas, se reconheça importância do ator social e de sua luta por autonomia. Assim, é na ação do ator social que se deve ancorar a nova visão democrática.



Palavras-chaves: ator social; democracia; modernidade


RESENHA DO CAP 2- RAMOS, Guerreiro. Administração e Estratégia do desenvolvimento: elementos de uma Sociologia especial da administração. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas: 1966.



Para Guerreiro Ramos, um dos maiores ideólogos brasileiros sobre a questão do desenvolvimento e da modernização nacional, apesar da abundância de literatura especializada em administração disponível até aquele momento no país (década de 60), reinava uma controvérsia sobre o quê realmente se constituía o fato administrativo. Essa confusão conceitual deve ser superada, para o autor, por uma sociologia especial da administração, para a qual a obra resumida se volta buscando fornecer, numa seqüência lógica, os rudimentos desta disciplina científica, que se expressa como “a parte da sociologia geral que estuda a realidade social da administração, suas expressões exteriores observáveis como fato, sistema e ação, sua tipologia qualitativa historicamente condicionada, seus elementos componentes ( aestruturais, estruturais e estruturantes)” (p4). Fazendo parte da sociologia o fato administrativo é em verdade, para o autor, do ponto de vista clássico, um fato social possuindo, portanto, suas caracteríticas de exterioridade e coerção externa. Mas é também, remetendo a uma sociologia pós Durkheim, um sistema. Esse campo de estudo deve compreender o fato e o sistema administrativo numa categoria de totalidade e numa abordagem pluridimencional que é integrativa e estruturalista, ou seja, deve compreender a administração como um processo onde a mudança é permanente devido a fatores internos e externos as organizações. Neste sentido o fato administrativo está em permanente atualização. Os elementos do fato administrativo são de três tipos: 1. aestruturais, que inclui os elementos materiais do trabalho (maquinas, móveis, etc.), a força de trabalho, tomada apenas no seu sentido de mão-de-obra, e as atitudes ou condutas humanas, que se referem as avaliações (que podem ser individuais, quando expressam a personalidade autônoma da pessoa, ou coletivas, quando se referem ao posicionamento de grupo); 2. os estruturais ou configurativos, que dão forma aos elementos anteriormente citados, podem ser internos, quando diz respeito a estrutura organizacional, ou externos, que dividem-se em três graus: a) o primeiro são as associações ou outro tipo de organização dos trabalhadores que atuam na empresa, b) no segundo situam-se a sociedade global onde a organização se situa, numa perspectiva continental, c) no terceiro encontram-se a sociedade mundial, com a influencia da organização internacional; 3. como último elemento os estruturantes, que para o autor é expresso pela decisão, que é dinâmica e intervencionista, pois articula os elementos aestruturais e os estruturais. Essa decisão, funcionalmente racional, busca a eficácia, que é medida pela escala em se logra a integração entre os elementos aestruturais e estruturais, entre a produção e sua repercussão entre seus trabalhadores, clientes e público em geral. A decisão pressupõe, além da eficácia, a comunicação, compreendida como múltiplos fluxos e não apenas verticalmente, e o tempo, compreendido na dimensão de complexidade cultural. O fato administrativo pode também ser pensado enquanto sistema, que comporta subsistemas em interação, subordinados a regras operacionais comuns, sistema esse dotado de fronteiras que o diferencia do ambiente (sistema externo) sobre o qual age e recebe influencias, num equilíbrio dinâmico. Outra questão fundamental, para Guerreiro Ramos, necessária numa sociologia especial da administração é a questão da ação administrativa. A definição desse conceito deve incorporar os conhecimentos advindos da relação de trabalho, especialmente: o que é a organização e como as pessoas estão nela; o peso dos fatores éticos e o ambiente externo como elemento da organização. Dessas questões o autor conclui que a organização expressa a racionalidade funcional e a ética da responsabilidade, de inspiração weberiana, sendo a ação administrativa “toda modalidade de ação social, dotada de racionalidade funcional, e que supõe estejam os seus agentes, enquanto a exercem, sob a vigência predominante da ética da responsabilidade” (94/5). Essa conceituação expressa o necessário olhar sensível da organização para o ambiente externo, estabelecendo um diálogo necessário para seu próprio controle. Nesse contexto a informação é uma unidade fundamental do processo organizativo.



Palavras-chaves: fato administrativo, ação administrativa, sociologia especial da administração.


CAPÍTULO 3 - SOUZA, Jessé. A reconstrução da ideologia espontânea do capitalismo. In: A construção social da subcidadania: para uma sociologia política da modernidade periférica. Belo horizonte, editora da UFMG, Rio de Janeiro, IUPERJ: 2006




O capítulo resumido possui como objetivo apresentar uma compreensão alternativa da modernidade periférica, rejeitando os modelos interpretativos que simplesmente antagonizam os conceitos de moderno e pré-moderno, buscando compreender as precondições sociais que justificam a naturalização das desigualdades em países periféricos como o Brasil. Nessa empreitada é necessário primeiro problematizar a própria modernidade central enfatizando suas ambigüidades. Isso é possível, para o autor, através da contribuição teórica de Charles Taylor e Pierre Bourdieu. Para Taylor a experiência humana é sempre situada e contextualizada, mas na modernidade domina um “naturalismo” que desvincula a ação dessa moldura contextual. Assim, a identidade do sujeito é sempre um resultado coletivo de uma “rede de interlocução”, o que pressupõe um pano de fundo comum que possibilita a comunicação e a originalidade, pressupõe portanto, uma topografia moral. Em relação ao Ocidente, esta topografia se pauta em dois princípios: 1º) O da interioridade: dividido em dignidade, que ao enfatizar a igualdade, os direitos individuais, a concepção mecanicista e instrumental do eu e a reflexão racional, busca uma perspectiva universalizante, da ideologia da igualdade de oportunidades, e na autenticidade que ao enfatizar os sentimentos e o modelo orgânico busca a particularidade do ser); 2º) O da afirmação da vida cotidiana, no caso das esferas práticas do trabalho e da família que passam a definir o lugar das atividades superiores e mais importantes, que podem ser assumidas pelas pessoas que consigam colocar em pratica da melhor maneira suas potencialidades pessoais, expressas no princípio da interioridade, o que acarreta a estas uma auto-estima e o reconhecimento social. Esses princípios são operadores lógicos que permitem naturalizar as hierarquias cotidianas, descontextualizando-as. Bourdieu, por sua vez, compreende como mecanismos de naturalização o habitus, que é um sistema de disposições duráveis, de caráter conservador, inculcadas no individuo pelas instituições sociais, que termina por automatizar e portanto naturalizar as ações dos indivíduos, e o capital simbólico que seria a forma mascarada do efeito econômico nas relações sociais, através deste os sistemas socialmente aceitos são considerados neutros da trama econômica e por trás dessa pretensa neutralidade a legitimam e perpetuam. Para o autor utilizando-se desses referenciais é possível compreender as naturalizações, ou como denomina, as ideologias espontâneas do capitalismo tardio. O cruzamento desses dois autores permite suprir, ainda no dizer de Souza, as deficiências e limitações das duas abordagens. Assim, falta em Taylor uma teoria contemporânea da luta de classes e em Bourdieu a explicitação de como os sistemas se tornam dominantes, uma vez que a competição entre os diversos grupos só seria possível dentro de uma terreno comum, transclassista.



Palavras-chaves: modernidade, subjetividade, modernidade periférica.

CAPÍTULO 4 - LA PASSADE. Análise organizacional. IN: Chaves da Sociologia. Rio de Janeiro. Ed. Civilização AS, vol 1, 1972.



O capítulo aqui resumido busca discorrer sobre o sentido de um construto moderno, no caso a organização, estabelecendo as características conceituais e as principais questões teóricas em relação a esse fenômeno. Assim, em relação a organização o autor argumenta que esta se encontra ligada a modernização e sua conseqüente burocratização do mundo e da vida. Desta racionalidade moderna ergue-se a compreensão da organização como dupla realidade: enquanto um conjunto de práticas coletivas guiadas por um objetivo ou enquanto certas condutas sociais, ou seja, a organização é pensada a partir de suas tipologias e/ou de sua dinâmica interna. Historicamente a análise organizacional compreende três fases: a organização formal, com Taylor e Fayol, que iniciou a análise da organização da produção buscando ampliá-la. A fase das relações humanas com Elton Mayo, que buscando responder as reivindicações operárias, alterou as potencialidades revolucionárias das reivindicações por iniciativas reformistas. E a terceira é a síntese estruturalista, que reconheceu a existência de tensões inevitáveis entre as necessidades da organização e as dos indivíduos. Entre as necessidades próprias da organização encontram-se as de se conservar, de onde deriva as questões: a) sobre o desfuncionamento organizacional, o que gera a noção de crise; b) a problemática do controle organizacional, seus meios e tipos de poder envolvidos (coercitivo, utilitário e simbólico); c) as formas de liderança, que implica discutir os dois tipos de atividades assumidas pelas organizações, no caso, instrumentais e expressivas e as condutas delas derivadas, assim, as lideranças inspiradas nessas duas atividades precisam ser analisadas segundo a tipologia da organização onde se encontram, no caso: coercitivas, utilitárias e normativas; d) a seleção que diminui as exigências de controle; e) poder de penetração, que se refere a relação com as normas externas à organização; f) campo de ação, que se refere ao numero de atividades realizadas pelos membros da organização e g) autoridade administrativa e profissional, que versa sobre as relações hierárquicas. O autor conclui o capítulo discorrendo sobre a metaburocracia que versa sobre um novo modelo de organização mais flexível em relação a várias das questões tradicionais.



Palavras-chaves: modernidade, organizações modernas.


CAPÍTULO 5 - LA PASSADE. Análise institucional. IN: Chaves da Sociologia. Rio de Janeiro. Ed. Civilização AS, vol 1, 1972.



Neste capítulo o autor se detém na análise institucional mostrando sua gênese política nas revoluções liberais modernas e sua gênese teórica a partir das contribuições de Durkheim. O autor destaca inicialmente três momentos na evolução do conceito: 1º. Momento universalista – onde a instituição é caracterizada como uma manifestação de comportamentos e modos de pensamento de cunho impessoal e coletivo herdados do processo civilizatório e que se constituem no objeto ou no efeito da educação. Nesta perspectiva as instituições se ligam à preservação das relações sociais e cumprem uma função ideológica; 2º. Momento de particularidade – onde se compreende que as instituições são determinadas material e socialmente, neste enfoque a questão da legitimidade surge como problema porque não há uma necessidade natural onde se possa ancorar uma instituição, o que explica inclusive o próprio uso da força em alguns processos de institucionalização e traz ainda para o campo analítico a possibilidade da desinstitucionalização; 3º. Momento de singularidade: onde o conceito passa a expressar as formas organizacionais jurídicas ou autônomas necessárias para atingir determinado fim ou objetivo, nesse enfoque surgem como questões a própria lógica interna de organização e funcionamento institucional. Para o autor esses três momentos só podem ser separados de forma didática e expressam as nuances onde se sustentam as análises institucionais, desvelando um duplo campo de pesquisa – a instituição enquanto ente próprio e sua articulação com a sociedade na qual se insere. O autor conclui que esses três aspectos descortinam que a instituição é o lugar onde se articulam e onde se falam as formas assumidas pelas determinações das relações sociais. Um lugar onde a ideologia é trabalhada permanentemente pela negatividade da infra-estrutura, ou seja, a instituição se enquadra na lógica infra-estrutural, mas aparentemente é neutra em relação a esta. Para o autor esses três momentos expressam: o instituído, o instituinte e a institucionalização. Assim, o conceito de instituição inscreve-se como instrumento de análise das contradições sociais e se apresenta tanto como elemento de manutenção social como elemento importante na luta pela reforma social. O autor destaca como questões fundamentais à análise institucional: como o conjunto das determinações sociais atravessa as instituições e como as instituições atuam sobre o conjunto das determinações sociais. Essas questões encaminham por sua vez para as problemáticas entre instituição e estrutura, instituição e sistemas e entre instituição e organização. O autor conclui este capítulo discutindo a noção de contra-instituição, que suprime o dualismo entre as instituições (pensadas como normas, como estática) e as relações sociais (pensadas como dinâmica). Esse conceito final enfatiza a luta social como o controle da vida cotidiana e não somente como a tomada de poder do Estado e se funda na negação da legitimidade lógica da ordem existente, se nutrindo da história e da historicidade das relações sociais e de produção.



Palavras-chaves: modernidade, instituições modernas.


CAPÍTULO 6- SOUZA, Eda Castro Lucas de. Escolas de governo: Estratégia para a reforma do Estado. IN: VIEIRA & CARVALHO (org). Organizações, instituições e poder no Brasil. Rio de Janeiro, Ed. FGV. 2003



O objetivo do capitulo é analisar o processo de institucionalização do Instituto Nacional de Administração Pública (Inap), da Argentina, e da Escola Nacional de Administração Pública (Enap), do Brasil, sendo a École Nationale d’ Administration (ENA), da França, tomada como paradigma de criação destas. A autora demonstra que a ENA, diferente das versões latino-americanas, nasceu em condições propícias a sua institucionalização. As duas escolas latino americanas foram criados dentro de uma ampla reforma administrativa que buscava, na América Latina, corrigir inúmeras disfunções e distorções do aparelho estatal, adequando o Estado ao regime democrático e enfatizando a retomada do crescimento econômico. Na análise comparativa a autora utiliza elementos do modelo de Esman sobre desenvolvimento institucional, que enfatiza como elementos básicos de análise: liderança, doutrina, programa, recursos e estrutura interna, os vínculos e as transações. A autora inicia a comparação partindo de uma análise da cultura político-administrativa do Estado brasileiro e do argentino e demonstra que por questões históricas variadas existe uma débil legitimação das instituições estatais e uma dificuldade de consolidação, principalmente no aspecto da definição de uma administração pública eficiente, capaz de arbitrar os conflitos intercorporativos na sociedade, há ainda uma descontinuidade administrativa prejudicial aos processos de institucionalização. No aspecto cultural a autora ressalta o clientelismo e corporativismo, concluindo que ambos os Estados são caracterizados por intenso e generalizado patrimonialismo. A autora ressalta como questão histórica importante a pressão democratizante pelo qual passava, na década de 80, as sociedades analisadas e as reformas estatais que não atingiram todos os objetivos propostos e dentro das quais se justificava a criação das escolas de governo latino-americanas. Em relação a liderança a autora argumenta que houve falta de liderança no momento da criação de ambas as escolas o que as deixou extremamente vulneráveis as pressões internas e externas. Já em relação a doutrina demonstra-se que os valores das escolas ficaram limitados a qualidade de projetos, não sendo aplicados a seu contexto real a ponto de ajudar a incorporação de uma doutrina; sem doutrina, as instituições acabaram sem legitimação. Programa: como os projetos dos dois paises não se articularam a um programa nacional não conseguiram se tornar orgânicos ao contexto da administração pública. Vínculos: as duas instituições se vincularam inicialmente a ENA, mas internamente faltou as duas maiores vínculos internos, principalmente com o meio acadêmico que as perceberam como concorrentes. Em relação a estrutura interna a autora demonstra que essas foram criadas dentro de uma estrutura administrativas comprometidas com o velho, o que trouxe inúmeros problemas as escolas, principalmente nas questões administrativas e financeiras. A autora ressalta ainda que como as escolas de governo partem de uma lógica que nega o clientelismo e esse é um forte traço da administração pública nos dois paises analisados é claro que estas sofreram várias retaliações corporativas. Na conclusão a autora enfatiza que o desenvolvimento institucional subordina-se não apenas aos elementos formadores da cultura organizacional, mas também as características básicas da sociedade na qual a instituição se encontra. Assim, para a institucionalização das escolas de governo na América Latina é preciso rever a cultura administrativa brasileira e Argentina e quebrar o ciclo do personalismo e do isolamento burocrático que as compõem.



Palavras-chaves: escolas de governo, institucionalização, estado latino-americano


MACHADO-DA-SILVA, Clóvis et all. Institucionalização da mudança na sociedade brasileira: o papel do formalismo. IN: VIEIRA & CARVALHO (org). Organizações, instituições e poder no Brasil. Rio de Janeiro, Ed. FGV. 2003



O artigo objetiva avaliar o papel do mecanismo coercitivo, descrito na teoria do novo institucionalista, como instrumento de mudança social no contexto brasileiro. O autor inicia discutido especificamente sobre as problemáticas fundamentais dentro da teoria institucional e demonstra que tanto o velho quanto o novo institucionalismo enfatizam a importância do ambiente, entendido como entidade cultural. O autor conclui que o fundo cultural para os indivíduos, grupos e organizações deve ser sempre levado em conta nas análises institucionais. Tendo essa necessidade em mente, o autor passa a trabalhar os conceitos: instituição e institucionalização, conformidade e legitimidade, mudança e manutenção de padrões culturais, buscando, ao explicitá-los demonstrar como a cultura brasileira justifica o uso do mecanismo coercitivo como elemento de mudança social. O autor compreende a instituição como sendo regras culturais que, fornecendo significado coletivo e valor a entidades e atividades particulares, integram-se a sistemas mais amplos. Neste sentido o conceito de instituição se refere a idéia de resultado, isto é de estado, e a institucionalização remete ao processo e aos mecanismos que resultaram nessas regras sociais. Assim, a institucionalização é condicionada pela lógica da conformidade as normas socialmente aceitas, o que descortina a importância da legitimidade para todas as instituições sociais. A procura pela conformidade aumenta as chances de sobrevivência das organizações. A essa conformidade as características ambientais denomina-se isomorfismo, que decorre da influencia de mecanismos coercitivos, miniméticos ou normativos. O autor argumenta que em termos mundiais as análises sobre os fatores miniméticos e normativos são predominantes, mas este defende a teses que no referente a realidade brasileira são os mecanismos institucionais coercitivos os elementos fundamentais aos estudos institucionais, tanto que são esses, segundo o autor, os que possuem historicamente um grande poder de imprimir mudanças sociais e institucionais em nosso país. Esse mecanismo coercitivo decorre da tradição patrimonialista em conjugação com os longos períodos autoritários que caracterizam o processo de formação sócio-cultural da sociedade brasileira. O autor explica que o isomorfismo coercitivo resulta de expectativas culturais da sociedade e de pressões exercidas por uma organização sobre uma outra que se encontra em condição de dependência. No caso brasileiro é o Estado nacional que cumpre esse papel coercitivo. Nesta circunstancias predomina a lógica da sanção e da norma. Para o autor a sociedade brasileira se caracteriza pelo formalismo, traço típico de sociedades prismáticas. Essas sociedades se sustentam em três características: heterogeneidade (coexistência de elementos modernos e antigos, do urbano com o rural, da adoção de estilo de vida sofisticado por uma minoria em confronto com o comportamento tradicional da maioria, apresentando disparidade), superposição (execução de uma série de funções por uma mesma unidade social favorecendo a interferência de critérios alheios a seu domínio e dando a ilusória aparência de autonomia dos mecanismos formais) e o formalismo (que se refere a discrepância entre as normas prescritas legalmente e as atitudes concretas adotadas quando de sua real implementação). Segundo o autor, na sociedade brasileira, fortemente influenciada por padrões ou modelos estrangeiros tornou-se mais fácil adotar uma estrutura formal por decreto ou por lei do que institucionalizar o correspondente comportamento social. Daí a compreensão do autor da sociedade brasileira como sociedade prismática. Nessa perspectiva, a história do Brasil deve ser compreendida sob duas formas: uma externa, voltada para o mundo, visando a inserção do país no capitalismo mundial, e outra particular ligada as práticas sócio-culturais historicamente construídas em nosso país. Neste contexto o Estado surge como ente modernizador desempenhando o papel de indutor do desenvolvimento e sua principal forma de atuação será através do uso do mecanismo coercitivo. Dentro desse contexto as reformas propostas pelo Estado vão preceder os costumes, as leis vão antecipar as práticas coletivas e o novo aprendizado que elas exigem acaba sendo lento e penoso. O autor conclui que o formalismo, como parte da cultura nacional, legitima o mecanismo institucional coercitivo como instrumento de manutenção da ordem e, paradoxalmente, de transformação social.



Palavras-chaves: cultura, institucionalização, formalismo




Gil :)))))))))

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